domingo, 18 de março de 2018

"DIA INTERNACIONAL DO LIVRO INFANTIL" 2018

O "Dia Internacional do Livro Infantil" comemora-se em todo o mundo, no dia 2 de abril, data do nascimento de Hans Christian Andersen, chamando-se a atenção para a importância da leitura e para o papel fundamental dos livros para a infância. 


A mensagem do IBBY internacional, este ano da responsabilidade da Letónia, consta de um texto da escritora INESE ZANDERE, e de um cartaz do ilustrador Reinis Petersons. Pode ser encontrada em http://www.ibby.org/awards-activities/activities/international-childrens-book-day/icbd-2018/?L=0

O PEQUENO TORNA-SE GRANDE NUM LIVRO

As pessoas inclinam-se para o ritmo e o equilíbrio, tal como a energia magnética organiza as aparas de metal numa experiência física, tal como floco de neve forma cristais a partir de água.

Num conto de fadas ou num poema, as crianças gostam de repetição e de refrões e de temas universais, porque eles podem ser reconhecidos uma e outra vez - trazem ao texto regularidade. O mundo ganha uma ordem bonita. Ainda me lembro, como em criança, lutava comigo mesma para defender a justiça ea simetria, pela igualdade dos direitos da esquerda e da direita: se tamborilava com os dedos em cima da mesa, contava quantas vezes tinha de bater com cada dedo, para que os outros não se sentissem ofendidos. E quando aplaudia, batia com a mão esquerda na direita, mas depois pensava que não era justo e aprendi a fazê-lo de maneira contrária batendo com a esquerda na direita. Este desejo instintivo de equilíbrio de evitar que o mundo se tome assimétrico. E eu tinha a sensação de ser a única responsável por todo o seu equilíbrio.

A inclinação das crianças por poemas e por histórias surge igualmente da sua necessidade de levar harmonia ao caos do mundo. Da indeterminação tudo tende para a ordem. As canções infantis, as canções populares, os jogos, os contos de fadas, a poesia- são formas de existência ritmicamente organizadas que ajudam os mais pequenos a estruturar a sua presença no grande caos. Criam a consciência instintiva de que a ordem do mundo é possível, e as pessoas têm nele um lugar único. Tudo conduz para este objectivo: a organização rítmica do texto, as linhas e o design da página, a impressão do livro como um todo bem estruturado. O grande revela-se pequeno, e damos-lhes forma nos livros infantis, mesmo quando não estamos a pensar em Deus ou na dimensão fractal. Um livro infantil é uma força milagrosa que favorece o enorme desejo das crianças e a sua capacidade de ser. Promove a sua coragem de viver.

Num livro, o pequeno é sempre grande, de forma instantânea e não apenas quando se chega à idade adulta. Um livro é um mistério onde se pode encontrar  algo que não se procurava ou que não estava ao nosso alcance. Aquilo que os leitores de uma certa idade não conseguem compreender, permanece na sua consciência como uma impressão, e continua  a actuar mesmo quando o não compreendem totalmente. Um livro ilustrado pode funcionar como uma arca do tesouro da sabedoria e cultura mesmo para os adultos, da mesma forma que as crianças podem ler um livro para adultos e encontrar nele a sua própria história, um indício para as jovens vidas. O contexto cultural molda as pessoas, estabelecendo as base para as impressões que se farão sentir no futuro, assim como para experiências mais difíceis, às quais terão de sobreviver sem por isso terem de deixar de ser íntegras.
 Um livro infantil representa o respeito pela grandeza do pequeno. Representa um mundo que se cria de novo uma e outra vez, uma serenidade lúdica e preciosa, sem a qual tudo, incluindo a literatura para crianças, seria apenas um trabalho pesado e vazio.

INESE ZANDERE, nascida na Letónia em 1958, é poeta e uma das maiores escritoras de livros para a infância do seu país.

(Tradução: Maria Carlos Loureiro, feita a partir de versão francesa e espanhola.)

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